A Crise como Catalisador de Engajamento
Do ponto de vista do marketing digital e do comportamento do consumidor, a crise de um time frequentemente atua como um poderoso catalisador de conversas e interações, especialmente nas plataformas online e redes sociais. O ser humano é inerentemente atraído pelo drama, pela incerteza e pela necessidade de discutir eventos significativos.
Don Ribeiro
8/4/20254 min ler


Picos de Engajamento Inesperado: Estudos indicam que o desempenho inesperado de equipes influencia diretamente o engajamento online dos torcedores. Uma pesquisa aprofundada sobre comunidades de fãs da NBA demonstrou que torcedores de times de alto desempenho tendem a aumentar sua atividade online após derrotas inesperadas, enquanto torcedores de times de baixo desempenho engajam-se mais após vitórias surpreendentes. Isso nos mostra que a quebra de expectativas, seja ela positiva ou negativa, gera um pico de interesse e de discussão. No ambiente digital, uma crise — que é, por natureza, um evento inesperado e negativo — pode, de fato, gerar um volume massivo de engajamento, com torcedores buscando entender, criticar, defender ou simplesmente acompanhar os desdobramentos em tempo real. As redes sociais, em particular, tornam-se um termômetro da opinião pública, exigindo respostas rápidas e estratégicas dos clubes para mitigar danos à imagem.
Narrativa Rica para a Mídia: Para os veículos de mídia esportiva, a crise é um prato cheio para a geração de conteúdo. Demissões de técnicos, contratações polêmicas, desentendimentos internos, resultados catastróficos – tudo isso fornece material para narrativas que capturam a atenção, geram cliques, visualizações e comentários. Embora a cobertura sensacionalista seja por vezes criticada, ela inegavelmente atrai atenção no curto prazo.
Fidelidade e Paixão: A paixão do torcedor por seu time é muitas vezes inabalável. Mesmo em momentos de derrota e crise, o envolvimento dos fãs não é necessariamente comprometido. Muitos torcedores veem a crise como parte da jornada, um teste de lealdade, o que pode manter um nível de engajamento emocional, mesmo que não se traduza em audiência passiva. A gestão desse engajamento, no entanto, é crítica.
As Nuances e Contradições (Audiência Geral e Mídia Tradicional)
Apesar do engajamento digital, a generalização de que "crise = mais audiência" não se sustenta em todas as plataformas e para todos os tipos de público. Há diferenças cruciais a serem observadas:
Engajamento de Nicho vs. Audiência Massiva: Existe uma distinção importante entre o engajamento de torcedores ávidos nas redes sociais e a audiência massiva da mídia tradicional (como a TV aberta). Embora o futebol ainda domine as maiores audiências da TV no Brasil em eventos específicos, a tendência geral das transmissões de futebol na TV aberta tem mostrado queda ao longo dos anos. Isso pode ser atribuído à fragmentação da mídia e à mudança nos hábitos de consumo para plataformas digitais e de streaming.
Fadiga da Crise: Uma crise prolongada ou repetitiva pode levar à "fadiga da crise" por parte do público, inclusive dos próprios torcedores. Se a má fase se estende sem perspectivas de melhora, parte da audiência pode se afastar, buscando conteúdos mais positivos ou simplesmente perdendo o interesse. Há evidências, como a observada com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) durante a crise técnica da seleção brasileira, que mostram uma queda no alcance digital e no engajamento de entidades esportivas quando suas seleções estão em um período de turbulência.
Dificuldade de Mensuração Unificada: A mensuração da audiência é complexa em um cenário de mídia fragmentado, com diversas plataformas digitais e de streaming. Isso dificulta a obtenção de dados conclusivos e unificados sobre o tema, tornando a avaliação do impacto da crise na audiência um desafio.
Perspectivas Estratégicas de Branding e Marketing Esportivo
Para as marcas (clubes, patrocinadores, veículos de mídia), a gestão da crise é um desafio estratégico que exige uma abordagem cuidadosa:
Para Clubes: Em momentos de crise, o foco deve ser na gestão da imagem e na comunicação transparente. É crucial manter a base de fãs engajada, mesmo que o desempenho em campo seja insatisfatório. Isso envolve estratégias de marketing digital robustas, que permitam a interação direta com o torcedor, a construção de uma narrativa de resiliência e a adaptação a novas plataformas de consumo, como o streaming, para alcançar públicos mais jovens e diversificados. A presença online deixa de ser apenas um canal de divulgação para se tornar um campo de disputa por atenção e engajamento.
Para a Mídia: A tentação do sensacionalismo é grande, pois gera cliques e visualizações no curto prazo. No entanto, uma cobertura excessivamente negativa e repetitiva pode, a longo prazo, alienar parte da audiência e até mesmo desvalorizar o "produto" futebol. O desafio é equilibrar a necessidade de reportar a realidade da crise com a responsabilidade de manter o interesse e a paixão pelo esporte.
Para Patrocinadores: As crises de imagem de um time podem impactar negativamente as marcas associadas. Patrocinadores precisam de estratégias robustas de gestão de risco e, em alguns casos, de planos de contingência para proteger sua própria reputação e garantir que seus investimentos continuem alinhados com os valores e a percepção do público.
Conclusão: Uma Faca de Dois Gumes
Em suma, a teoria de que a crise de um time aumenta a audiência da mídia tem, sim, fundamento em dados, especialmente no que tange ao engajamento online e nas mídias sociais. A crise cria um vácuo de informação e uma necessidade de discussão que as plataformas digitais preenchem com maestria, gerando picos de interesse e debate.
Contudo, essa não é uma verdade universal para todas as formas de mídia ou para todos os públicos. Para a audiência tradicional, a relação pode ser mais complexa e até contraditória, com a possibilidade de queda de interesse em crises prolongadas.
Como profissionais de branding e marketing esportivo, devemos entender que a crise é uma faca de dois gumes: oferece oportunidades de engajamento intenso e de construção de narrativa, mas exige uma gestão extremamente cuidadosa para não erodir a lealdade do torcedor e a percepção da marca a longo prazo. O sucesso reside em transformar o drama em diálogo, a adversidade em uma história de superação, e a paixão pelo esporte em um vínculo inquebrável, independentemente dos resultados em campo.
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