WNBA: A Realidade Financeira Nua e Crua
O Prejuízo não é Lucro e o Caminho para a Relevância Exige Mais Que Protestos.
Don Ribeiro
7/23/20256 min ler


Recentemente, as quadras da WNBA se tornaram palco de um protesto incisivo: jogadoras exigindo um modelo de divisão de lucros semelhante ao da NBA, ostentando camisetas com a mensagem "Paguem o que nos devem". A voz é de reivindicação por equidade, um clamor por uma fatia maior do bolo. No entanto, é hora de encarar uma verdade inconveniente e, por vezes, desconfortável: que "bolo" está sendo realmente distribuído na WNBA? A análise fria dos números e da posição da liga no panorama do entretenimento esportivo global sugere que, talvez, o alvo desses protestos esteja equivocado ou, no mínimo, precocemente focado em uma premissa econômica distorcida e insustentável.
A Ilusão da Paridade: Dividir o Prejuízo, Não o Lucro
A comparação entre a WNBA e a NBA, quando se trata de modelos financeiros e de negócios, é, no mínimo, ingênua e descolada da realidade de mercado. A National Basketball Association é uma máquina bilionária, um gigante global que, anualmente, gera receitas que ultrapassam os US$ 10 bilhões. Deste montante colossal, aproximadamente 50% é distribuído para os jogadores, resultando em salários médios multimilionários e contratos estratosféricos para suas estrelas.
A WNBA, por outro lado, opera em um cenário financeiro drasticamente distinto. Desde sua fundação em 1996, a liga tem acumulado perdas operacionais, sendo amplamente subsidiada pela NBA e seus proprietários. Para 2024, a projeção é de um prejuízo que varia entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões. Este déficit não é um desvio, mas uma constante histórica.
Diante dessa realidade, o que significaria uma divisão de 50-50 na WNBA? Significaria que as jogadoras, em vez de compartilhar lucros, estariam dividindo um déficit. Seria compartilhar o fardo financeiro de uma operação que ainda luta para se sustentar e que, em sua essência, não gera lucro. Exigir paridade em um modelo de negócio fundamentalmente diferente, que ainda não atingiu a lucratividade e que depende de injeções de capital externas para sobreviver, é economicamente insustentável e logicamente falho. O problema não é a vontade de remunerar as atletas, mas a ausência de um volume de receita que permita tal remuneração nos moldes da liga masculina. Não se pode fatiar um bolo que ainda não foi assado, ou, pior, que está sendo continuamente bancado por terceiros para evitar que desmorone. A sustentabilidade financeira é o alicerce de qualquer ambição salarial.
A Baixa Relevância no Entretenimento Esportivo: Um Diagnóstico Necessário
Apesar do inegável talento, da dedicação e da crescente visibilidade de atletas como Caitlin Clark, a relevância do basquete feminino no cenário global de entretenimento esportivo ainda é um desafio monumental a ser superado. Embora a chegada de estrelas como Clark tenha, de fato, gerado um pico de interesse e audiência – com jogos alcançando picos de 2.4 milhões de espectadores, um sinal positivo e bem-vindo –, é crucial reconhecer que essa base de interesse parte de um patamar historicamente baixo e que a sustentação desses números ainda é um teste. O volume de espectadores, o engajamento da mídia e, consequentemente, os valores de patrocínio e direitos de transmissão, embora em ascensão, estão em uma liga completamente diferente da NBA ou de outras potências esportivas globais como a Premier League ou a NFL.
Não se trata de desmerecer o esporte ou o esforço das atletas, mas de diagnosticar a realidade de mercado: o produto, da forma como é apresentado hoje, não captura a imaginação do público em massa na mesma escala, nem gera a mesma receita de ticketing, merchandise e acordos comerciais que as ligas masculinas de ponta. A questão não é se as jogadoras merecem mais, mas se o produto WNBA, em sua forma atual, gera a receita para sustentar as ambições financeiras legítimas de suas atletas. O novo acordo de direitos de mídia, embora bilionário em números absolutos (estimado em US$ 2.4 bilhões ao longo de 8 anos, para todo o basquete americano, com uma parcela menor destinada à WNBA), é um avanço, mas a WNBA precisa se tornar uma liga que gera centenas de milhões em lucro, não apenas em receita, para que as demandas por um percentual maior se tornem economicamente viáveis e autossustentáveis.
Reinventando o Jogo: Mudanças Estruturais para um Espetáculo Mais Dinâmico
Se a paridade financeira é uma miragem sem uma base econômica sólida, talvez a WNBA precise olhar para a reinvenção do próprio espetáculo. Em vez de simplesmente copiar modelos da liga masculina, é hora de considerar soluções ousadas e estruturais que possam tornar o basquete feminino intrinsecamente mais atraente, mais "explosivo" e, consequentemente, mais lucrativo para o público em geral. A inovação no produto é a chave para o crescimento da receita.
Reavaliar as Dimensões da Quadra e a Altura das Tabelas: A biometria, o estilo de jogo e as capacidades atléticas das atletas femininas são, por natureza, diferentes. Por que insistir em padronizações que, talvez, limitem o potencial atlético e o dinamismo que poderiam atrair mais fãs e gerar um espetáculo mais único?
Tabelas Mais Baixas: Reduzir a altura das tabelas de 10 pés (3,05m) para, por exemplo, 9 ou 9,5 pés (2,74m a 2,90m) poderia permitir mais jogadas acima do aro – mais enterradas, mais dunks, mais plasticidade, mais pontos em situações de maior proximidade com a cesta. Isso tornaria o jogo visualmente mais impactante, mais "explosivo" e dinâmico, com uma verticalidade que hoje é mais rara, mas que é um dos grandes atrativos do basquete masculino. Aumentaria o número de "highlight plays" e a percepção de atletismo.
Dimensões da Quadra Reduzidas: Uma quadra ligeiramente menor, talvez mais estreita ou mais curta em alguns metros, poderia forçar o jogo a ser mais rápido, mais intenso e com mais contato físico. Menos espaço significa decisões mais rápidas, transições mais velozes e um jogo mais condensado, eliminando momentos de letargia e aumentando o ritmo geral. Isso poderia amplificar a emoção e a imprevisibilidade de cada posse de bola, tornando o produto televisivo mais envolvente.
Repensar o Formato dos Tempos e Paralisações: O basquete moderno é frequentemente criticado pelas excessivas paralisações e pelos longos commercial breaks, que quebram o ritmo do jogo e a atenção do espectador casual. Para um espetáculo mais fluido e dinâmico, que prenda a atenção do início ao fim:
Menos Tempos Mortos e Pausas Comerciais Otimizadas: Reduzir o número de timeouts ou limitar sua duração pode manter o ritmo do jogo e a intensidade, evitando que a ação seja quebrada constantemente. Além disso, a otimização dos commercial breaks, talvez com formatos mais curtos e frequentes ou com a utilização de picture-in-picture, pode melhorar a experiência do telespectador, que busca fluidez e ação contínua. Isso privilegia a fluidez e a estratégia em tempo real.
Formatos Inovadores de Jogo: Poderiam ser explorados formatos de jogo com regras ligeiramente adaptadas para promover um basquete mais ofensivo e de alta pontuação, ou até mesmo torneios de curta duração com regras especiais para atrair novos públicos e testar inovações.
Essas não são meras sugestões; são provocações para um debate necessário sobre como o basquete feminino pode evoluir para maximizar seu apelo como produto de entretenimento. O objetivo não é descaracterizar o esporte, mas otimizá-lo para a realidade atlética de suas protagonistas e para a expectativa do público moderno. A relevância e a lucratividade não virão apenas da demanda por uma fatia maior de um bolo que ainda não existe, mas sim da capacidade de criar um bolo tão grande e delicioso que todos queiram investir nele, com uma receita única e irresistível.
Conclusão: Construir o Valor Antes de Demandar a Paridade
A luta por melhores salários e condições de trabalho é compreensível e legítima em qualquer profissão. Contudo, no contexto da WNBA, essa luta precisa ser acompanhada de uma estratégia de crescimento que vá além da mera replicação do modelo da NBA. A verdadeira paridade financeira virá quando a WNBA for, por si só, uma potência econômica, gerando lucros substanciais que justifiquem a divisão de 50% de um valor que realmente existe.
O futuro da WNBA não está apenas em exigir mais do que se tem, mas em transformar radicalmente o que se oferece como produto de entretenimento. É preciso coragem para inovar o espetáculo, adaptá-lo para maximizar a emoção, o dinamismo e o apelo visual, e, assim, conquistar uma base de fãs massiva e autossustentável. Somente então, com um produto de entretenimento consolidado, lucrativo e com um valor de mercado inegável, as demandas por uma participação maior nos lucros se alinharão à realidade econômica, e as jogadoras poderão, de fato, receber o que lhes é devido – mas de um bolo que elas mesmas ajudaram a assar, com ingredientes próprios e uma receita única, que não dependa da generosidade ou da subsistência de uma liga irmã. A responsabilidade de construir esse futuro reside tanto na gestão da liga quanto na disposição das atletas em abraçar a inovação para o bem comum.
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